Toda leitura vale?
Listas de livros mais vendidos, pré-venda Corregidora, de Gayl Jones e muito mais…
Quando o assunto são os livros mais vendidos no Brasil, é comum que leitores critiquem os títulos que encabeçam essa lista. Sim, a maioria são livros de autoajuda ou de cunho religioso — e agora, por exemplo, quem domina o topo da lista geral são os livros de colorir.
Tirando esses últimos, que realmente não são para leitura, as críticas aos mais vendidos são sempre ferrenhas. As pessoas não estão lendo “coisas que prestam”, não se interessam pelos grandes nomes da literatura, não possuem “bagagem cultural”. Afirmações que nós e vocês até podemos proferir em algum momento quando a discussão é a leitura. Já criticamos grandes sucessos do mercado por serem “comerciais” demais, já reclamamos de outros por serem “populares” demais. Mas sabe quem tá errado nessas críticas? Nós.
É claro que quem ama literatura gostaria de ver seus autores favoritos entre os mais vendidos. Queremos compartilhar o que gostamos com o maior número possível de pessoas. Porém, vocês sabem: não somos um pais que forma leitores. Quando o assunto é entretenimento, a leitura fica praticamente fora de campo, disputando atenção com filmes, séries, jogos etc. Para muitos leitores, é difícil se concentrar e acompanhar o que está sendo dito no livro. Muitos não tiveram contato com a leitura na escola, não têm acesso à bibliotecas, não tiveram incentivo para cultivar o hábito da leitura. Quando uma pessoa que não lê vorazmente diz que leu e adorou uma obra, seja ela um livro para mudar o mindset, entrar em contato com a espiritualidade ou para atiçar a imaginação com um romance safado, não é criticando o que ela lê que vamos conquistá-la para a leitura.
Sim, temos todo o direito de gostar ou desgostar de um autor, de uma obra, de um estilo literário ou de uma temática. Mas não é criticando as escolhas literárias (ou não literárias) de um leitor que vamos conseguir levá-lo para as obras que nós consideramos importantes — e aproveitamos até para deixar esse questionamento: será que as pessoas precisam ler o que a gente considera ser bom? Não seria isso uma forma arrogante de impor o que gostamos aos outros?
Nem toda leitura é “boa”, quem nunca leu um livro que acabou achando horrível? Mas a leitura exige essa experimentação. É assim que vamos formando nosso repertório. Já gostamos de obras que, hoje, não conseguimos defender mais. Mas elas foram importantes lá no passado porque abriram as portas para chegarmos nos livros que lemos hoje. Então leia o que você tem vontade, leia sem se importar o que os outros vão achar da sua escolha.
Sim, seríamos mais felizes e satisfeitos se a lista dos livros mais vendidos trouxessem as obras que amamos e consideramos as melhores, mas não vivemos numa realidade em que essa leitura é difundida para todos. Sabemos como certas obras ainda habitam um cenário elitista. Mas se é título livro religioso, de autoajuda ou de “empreendedorismo” que vai abrir as portas para um não leitor pegar um livro na mão, bem, há uma vitória aí.
O que podemos fazer, como leitores vorazes que somos, é ajudar essas pessoas a encontrarem outras obras que possam interessá-las. Ir, com jeitinho, apresentando autores e estilos, conectando o que ela lê agora com outras leituras que possam servir de contraponto. Porque o mais difícil a pessoa já fez: abrir um livro. Ao invés de gritar para que ela o feche imediatamente, podemos incentivá-la a procurar outros livros, para que a leitura se torne um hábito.
Leia o que você quiser, mas leia. Há sempre uma nova história esperando por você.
PRÉ-VENDA: CORREGIDORA, de Gayl Jones
Continua a pré-venda de CORREGIDORA (trad. nina rizzi), de Gayl Jones, no nosso site com 10% de desconto, marcador exclusivo e frete grátis!
Descoberto e editado por Toni Morrison, CORREGIDORA é o romance de estreia de Gayl Jones, publicado em 1975. Ambientado entre o fim dos anos 1940 e 1970, conta a história de Ursa Corregidora, mulher negra, cantora de blues, no Kentucky. Ao mesmo tempo que busca conquistar espaços para desenvolver sua carreira e viver de sua arte, Ursa atravessa relacionamentos tumultuados e ocasionalmente violentos.
Em uma das agressões sofridas, passa por uma histerectomia e precisa lidar com a frustração e a angústia por não ser capaz de atender ao apelo de suas antepassadas para “dar à luz novas gerações”, o que seria fundamental para continuar a tradição oral que evitaria o apagamento da realidade da vida sob a escravatura — sua família leva o nome do proprietário de escravos português que foi genitor tanto da mãe como da avó de Ursa, uma prova irrefutável das terríveis violências sofridas por mulheres escravizadas. Contar histórias, portanto, se torna a sua grande missão, e é nessa prática que ela busca superar seus traumas geracionais e as tristezas do presente.
O que mais temos para hoje?
Coisas legais sobre livros e leitura e outros assuntos interessantes que vimos por aí.
A Carta Capital publicou uma resenha de SÓ UM POUCO AQUI (trad. Silvia Massimini Felix), de María Ospina Pizano.
Já o programa Entrelinhas, da TV Cultura, indicou a leitura de AUSTRAL, de Carlos Fonseca (trad. Bruno Cobalchini Mattos).
O perfil Páginas Viradas falou sobre a leitura de MITZ: A SAGUI QUE NÃO TEVE MEDO DE VIRGINIA WOOLF (trad. Carla Fortino):
Semana que vem, no dia 28/7, vai ter encontro do Clube de Leitura da Livraria Martins Fontes para falar sobre O AMIGO (trad. Carla Fortino), também de Sigrid Nunez:
A Jacque Schmitt falou sobre FLORADAS NA SERRA, de Dinah Silveira de Queiroz!
Qual é o custo cognitivo de usar Inteligência Artificial? Estudos recentes mostram que usar a IA para escrever (seja para organizar as ideias ou redigir o texto) ativa menos o nosso cérebro e gera textos homogêneos, sem originalidade. Leia mais no The New York Times (em inglês).
Mauro Calliari escreveu na Folha de S.Paulo sobre a importância das livrarias para as cidades: “Num país em que quase 60% dos municípios não têm sequer um ponto de vendas de livros, as cidades deveriam estender o tapete para cada empreendedor que desafia a racionalidade econômica e abre uma nova livraria.” Leia mais aqui.
“O segredo — perdão pela piada —, não é destruir o que a pessoa gosta, e sim apresentar algo tão atraente que ela mesma vá migrando naturalmente.” O Igor Vida tem um contraponto ao tema da nossa newsletter de hoje, mas a conclusão é sempre a mesma: não é julgando o leitor que vamos atraí-lo para o que gostamos. Leia mais:
E para encerrar: nada como a intimidade e o amor entre irmãs!
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Concordo! Acho que ninguém inicia o hábito de ler com grandes obras clássicas da literatura, e julgar o que o outro lê é bem esnobe...
Excelente texto!
Quero um Brasil com mais leitores, se ele vai começar pelo livro do padre, acredito que amanhã ele possa ler o Mitz