No evento com a escritora Ariana Harwicz, que rolou na última segunda-feira, em São Paulo, ela deu a letra: histórias de famílias disfuncionais rendem. E, como também diria Tolstói,
“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”
Lindo!
Se tem família, tem treta. E a família é o primeiro contato que temos com o mundo e as outras pessoas, né? Então essa treta acaba impactando a gente lá na frente — alô, terapia!
Famílias disfuncionais são aquelas que deturpam a noção do que é uma família, que desfazem totalmente aquela visão de propaganda de margarina: pais, mães, filhos e pets felizes tomando o café da manhã enquanto a câmera dá um close no pote de Doriana. Mas não é isso o que queremos ler nos livros, por esse motivo as famílias disfuncionais rendem tantas histórias.
Bora conhecer algumas — e olha que nosso catálogo está cheio delas!
Trilogia da Paixão
Já que começamos falando da Ariana Harwicz, é com ela que vamos! As famílias retratadas em MORRA AMOR, A DÉBIL MENTAL e PRECOCE são a definição de disfuncionalidade. Os três livros são recheados de problemas com a criação dos filhos, a maternidade em si e o que essas personagens enfrentam. São histórias que levam os problemas familiares para outro patamar e acabam causando certo desconforto — mas um desconforto bom, que desafia as nossas percepções.
Crônica da casa assassinada
O grande romance de Lúcio Cardoso retrata uma das famílias mais disfuncionais da literatura brasileira: três irmãos de uma renomada família do interior mineiro vivem num casarão decadente — que, assim como a própria família, agora se despedaça. Por meio de vários narradores, conhecemos todas as tretas que a envolvem, e nessa conta você pode incluir assassinato e até incesto. Pensa na treta.
A casa do pai
Traumas paternos? Temos! O romance A CASA DO PAI, de Karmele Jaio, apresenta três personagens: Ismael, escritor em plena crise criativa diante da produção de seu novo e aguardado romance; Jasone, a esposa, leitora crítica e revisora dos livros do marido que vive uma intensa e silenciosa revolução pessoal após as filhas se tornarem adultas; e Libe, irmã mais velha de Ismael, amiga de infância de Jasone e referência da vida inteira para ambos. Aí vamos ver uma relação familiar cheia de traumas, bloqueios, masculinidade tóxica… Ih, vai longe.
Graça infinita
O catatau de David Foster Wallace e a história dos Incandenza é um grande retrato da família doida. O romance em si já é louco, mas ler sobre a dinâmica dessa galera torna tudo ainda mais maluco. Do filho maconheiro ao filho astro do futebol americano, do pai suicida e seu legado mortal até a mãe que sempre tem os filhos debaixo da sua asa — fora a miríade de personagens tão insanos quanto estes.
Nascimento e morte da dona de casa
Uma coisa que pouca gente percebe é que uma família tradicional também pode ser disfuncional. Pois é só ler o livro da italiana Paola Masino para ver. Sujeita à censura antes da primeira publicação, em 1945, a história traz uma crítica ao fascismo e à rígida noção de feminilidade que ele promoveu. A protagonista é uma menina sem nome, rosto ou endereço, ciente de seu destino: conformar-se às expectativas burguesas em relação à mulher, ter a imaginação selvagem controlada, e a inteligência, ocultada. Em suma, ser dona de casa. Temendo matar a mãe de desgosto por sua recusa a se enquadrar, concorda em se comportar como uma jovem “normal” e tornar-se desejável ao universo masculino.
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E ficamos por aqui! Obrigada por passar mais esse instante com a gente.
Bom fim de semana!