Homens leem menos ficção?
E mais: Maria Adelaide Amaral no programa Entrelinhas (TV Cultura) e lugares interessantes para buscar novas leituras em São Paulo.
Uma matéria da Dazed gerou uma boa discussão no mundinho literário nas últimas semanas. No texto, Georgina Elliott escreve sobre por que homens leem menos ficção do que as mulheres, e aí paramos para pensar em como a leitura é vista atualmente.
Aqui na nossa equipe, por exemplo, conhecemos homens que leem ficção — alô, chefe! —, mas habitamos um mundo de leitores, com pessoas que trabalham com o livro, consomem literatura e acompanham o mercado. Mas, olhando para o panorama geral, de fato as mulheres são maioria quando o assunto é leitura frequente de ficção. Segundo um estudo da Nielsen Book Data, em 2023, 85% dos compradores de livros dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido foram mulheres.
No Brasil a diferença é menor, mas as mulheres ainda estão na frente: entre leitores de literatura, 56% são mulheres e 44% são homens, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2019. Então há, sim, alguma coisa que mantém os homens mais afastados da ficção.
Segundo a Dazed, a maioria do público masculino enxerga a leitura como uma “perda de tempo”, priorizando esses momentos para se dedicar a livros técnicos e de não ficção. Isso provavelmente está relacionado com a visão de que a leitura tem apenas um viés de aprendizado, e não de lazer. Mas, além disso, há também uma cultura machista por trás desse pensamento.
Afinal, durante muito tempo, a ficção foi vendida como um produto feminino para ocupar as donas de casa entediadas dos séculos XVIII e XIX. Enquanto os meninos aprendiam a caçar e estudavam para assumir os negócios da família, as meninas eram mantidas naquela lógica de aprender a cuidar de casa e ter hobbies “discretos” — como a leitura.
Mas, além dessa visão, outro problema recai sobre as atividades que a sociedade atual privilegia. Numa lógica capitalista, tudo a que nos dedicamos é medido pela régua da produtividade. Muitos enxergam a leitura da ficção como um tempo “jogado fora” por não ter uma aplicação prática no mundo da produção constante — e podemos contestar o que é ter “aplicação prática”, mas isso fica para outra newsletter. Ler sobre economia acaba sendo mais “desejável” do que se entreter com um livro de ficção, porque essa leitura promete um ganho concreto — o conhecimento.
Ler ficção tem muito mais a ver com o nosso aprimoramento como humanos do que com melhorar alguma habilidade prática que pode ser aplicada no trabalho. E isso é tão ou mais importante do que avançar profissionalmente. Afinal, depois do expediente, o que fazemos com nossa vida? Como entendemos quem somos e o que queremos? Essas respostas a gente pode encontrar na leitura de ficção. Por isso, homens, percorram sem medo as prateleiras de ficção das livrarias. Aqui no catálogo da Instante certamente não faltam ótimas opções. ;)
O que mais temos para hoje?
Coisas legais sobre livros e leitura e outros assuntos interessantes que vimos por aí
Maria Adelaide Amaral, autora de LUÍSA (QUASE UMA HISTÓRIA DE AMOR) e AOS MEUS AMIGOS, conversou com Manuel da Costa Pinto no programa Entrelinhas, da TV Cultura, sobre as reedições das duas obras. Vem assistir!
No dia 23/8, às 17h, vai ter um encontro com Maria José Silveira na Livraria Na Nuvem, em São Paulo! Anote na agenda para não perder a conversa sobre os livros MARIA ALTAMIRA e FAREJADOR DE ÁGUAS.
A newsletter Ladrilho Hidráulico recomendou a leitura de AUSTRAL, de Carlos Fonseca (trad. Bruno Cobalchini Mattos). Vem conferir aqui:
Quer mais motivos para desacelerar o uso de redes sociais? A BBC fala como alguns estudos já têm observado como a permanência por muito tempo nas redes pode afetar não só a qualidade do sono, mas dos sonhos, causando mais pesadelos. Vem ler!
A revista Quatro Cinco Um fez uma lista com nove espaços agradáveis para ler e estudar fora de casa. Bora aproveitar!
Tem livraria nova e muito graciosa na área aqui em São Paulo — para nossa sorte, bem pertinho do escritório da Instante! A Livraria Caraíbas (rua Caraíbas, 586) acaba de abrir as portas na Pompeia, vizinha do fofíssimo café Dolce Madre e do restaurante Vinoteca Paulistana. Baita programa pro fim de semana, hein?
Para encerrar, faça como o Stanis, gatinho da ilustradora italiana Elisa Colarossi, e aproveite o fim de semana para visitar sua livraria favorita.
E ficamos por aqui! Obrigada por passar mais esse instante com a gente e até semana que vem!
Ouvi isso recentemente e fiquei meio perplexo: na minha bolha homens leem ficção, mas estou ciente que a minha bolha é uma bolha de escritores e leitores. Entre o público geral, acho que concordo que não apenas mulheres e homens leem mais não-ficção (embora a proporção de homens que prefira o gênero seja bem maior).
Nunca tinha lido a respeito, então não imaginava que tinha essa diferença toda entre a quantidade de homens e mulheres que leem ficção.
Falando por mim exclusivamente, de uns anos para cá passei a ler mais não-ficção, mas não por achar "mais útil", ou algo do tipo, até porque leio muito mais por prazer do que por necessidade (sorte a minha, acho).
Não sei ao certo porque, tanto com livros quanto com filmes, percebi uma crescente dificuldade de "me engajar" com a história e com os personagens.
Mais do que qualquer outro sentimento ou reação, me provocava tensão.
Nunca entendi realmente isso, apenas percebi que acontecia e gradativamente fui me afastando da ficção e buscando esse "alimento cultural" na não-ficção.
Mas não desisti das histórias que são fruto da imaginação de seus criadores.
Acho que perderia muito com isso.