Donas de casa italianas do século XX
O que aproxima - e afasta - Paola Masino de Elena Ferrante
Quando lemos a sinopse de NASCIMENTO E MORTE DA DONA DE CASA, de Paola Masino (traduzido por Francesca Cricelli aqui para a Instante), lembramos logo da que é, hoje, a escritora italiana mais famosa: Elena Ferrante.
Autora da tetralogia Napolitana, Ferrante apresentou ao mundo a vida de mulheres que queriam escapar de suas origens, da opressão dos homens, da sociedade que sempre quer impor como uma mulher tem que viver. Assim como Masino fez em seu romance publicado em 1945, mas escrito durante os anos 1930 e censurado pela ditadura de Mussolini.
Podemos considerar que NASCIMENTO E MORTE DA DONA DE CASA é quase que como um prólogo da tetralogia de Ferrante, já que acontece na década anterior a que a série se passa. Através de uma mulher sem nome, referida apenas como a Dona de Casa, desde criança ela sabe o que se espera de uma mulher, e por mais que seja contra isso, se submete às convenções para não “matar a mãe de desgosto". Por meio de uma escrita surrealista, entramos na cabeça dessa mulher e enxergamos a realidade sobre a maternidade, o trabalho doméstico, as micro e macro agressões do autoritarismo. Como num conto de fadas às avessas, em que o fantástico e o surreal se infiltram nas malhas de um território ― geográfico e humano ― dominado por regras, repressão e controle de corpos e mentes, sobretudo os das mulheres, a Dona de Casa encontra no devaneio e nas reflexões mordazes as únicas vias para escapar da realidade que se impõe e sobreviver a esse embate.
Ou seja: vários temas que perpassam a tetralogia napolitana de Ferrante estão presentes, também, aqui em NASCIMENTO E MORTE DA DONA DE CASA.
Mas calma: ao abrir esse romance, você vai encontrar algo bem diferente do que Ferrante faz. Masino aposta no surreal, na fantasia, misturando o real ao imaginário da Dona de Casa, enquanto Ferrante tem o pé fincado na realidade. O que deixa a narrativa muito mais desafiadora e mirabolante, mas sem deixar de lado o prazer da leitura. É como se tivessem colocado Virginia Woolf e Ferrante em um liquidificador e saído Paola Masino como resultado.
Paola Masino foi uma intelectual versátil e figura notável nos círculos literários e artísticos do século XX. Nasceu em Pisa, em 1908, e escreveu romances, contos, poemas e libretos de ópera, além de ter trabalhado como tradutora e jornalista. Em 1924, sua primeira peça, Le tre Marie, recebeu palavras de encorajamento de Luigi Pirandello, que era um de seus grandes ídolos. O encontro com Massimo Bontempelli, já um escritor famoso e trinta anos mais velho, data de 1927: a relação sentimental e profissional vai durar a vida toda. Juntos, foram perseguidos pela ditadura fascista, mas isso não os intimidou no trabalho crítico ao regime em seus livros e inúmeros periódicos em que colaboravam. Paola Masino morreu em Roma em 1989.
E aí, curtiu saber um pouco mais sobre NASCIMENTO E MORTE DA DONA DE CASA e sobre a Paola Masino? Então vem ler essa história!