Dê um livro pro seu pai
O Dia dos Pais está aí e você ainda não comprou presente? Iiiiih, então vem aqui conhecer nossas dicas de livros para você presentear o paizão.
Depois do fim
Para pais que adoram ler e se preocupam com o futuro do planeta, vem de DEPOIS DO FIM: CONVERSAS SOBRE LITERATURA E ANTROPOCENO, organizado por Fabiane Secches. Muitas áreas da cultura têm se proposto a falar do Antropoceno — o período vigente, em que o impacto de algumas ações humanas sobre o meio ambiente se mostrou ainda mais destrutivo, quiçá irreversível. A seu modo, cada campo do conhecimento destrincha nossos graves delitos como humanidade que se pensou superior às outras formas de vida, às outras espécies e a determinados grupos entre seus iguais. Mas é na literatura — sempre ela — que essas dores ganham corpo e contornos capazes de nos tirar da zona de conforto e nos fazer imaginar mundos possíveis, com relações e ações mais harmoniosas, horizontais e coletivas. DEPOIS DO FIM reúne um time de grandes autores em ensaios literários que propõem reflexões sobre dilemas atuais — catástrofe climática, extinção de outras espécies, exclusão social impulsionada pela exploração neoliberal, ameaça aos povos originários, entre outros temas —, convidando-nos a pensar sobre como tecer, em conjunto, um novo começo.
A casa do pai
Tem pai no nome, mas o que esse livro, escrito pela autora Karmele Jaio, revela é uma reflexão importante sobre relações familiares e masculinidade. Por meio de capítulos curtos e prosa fluida, alternam-se vozes narrativas focalizadas em três personagens: Ismael, escritor em crise criativa diante da produção de seu novo e aguardado romance; Jasone, a esposa, leitora crítica e revisora dos livros dele, que vive uma intensa e silenciosa revolução pessoal após as filhas se tornarem adultas; e Libe, irmã mais velha de Ismael, amiga de infância de Jasone e referência da vida inteira para ambos. O que os une, para além das memórias compartilhadas da juventude, é o desejo de desconstruir padrões de gênero, de investigar a matéria sobre a qual essas construções se erigem, de resgatar na casa paterna, na figura rude e agora fragilizada do pai envelhecido, o ponto de mutação que os levou a traumas, bloqueios e desencontros. Sobretudo para Ismael, esse exame do passado e das minúcias do comportamento de seu pai será decisivo para seu processo de escrita.
O amigo
Tá aí uma autora que seu pai vai adorar: Sigrid Nunez. Após o suicídio do melhor amigo, uma mulher solteira de meia-idade começa a narrar o que se passou depois da morte dele. Essa foi a maneira que ela, escritora e professora universitária de escrita criativa, encontrou para lidar com o luto. Nessa espécie de diário ou conversa dirigida ao amigo, reflete sobre literatura, a arte de escrever e o meio literário, além de relembrar o que aprendeu e viveu com o ex-professor e mentor. Ela não esperava, porém, que o amigo lhe deixaria uma herança inusitada: Apolo, um dogue alemão gigantesco, idoso e traumatizado com a ausência do dono. Ao adotá-lo, ela passa a viver sob a ameaça de despejo, porque o prédio em que mora não aceita cachorros. Enquanto os mais próximos temem que essa conjuntura a tenha mergulhado em uma depressão profunda, a mulher, cada vez mais isolada do mundo e obcecada com o bem-estar de Apolo, que já não dispõe de muito tempo de vida, recusa-se a se separar do novo amigo, pois vê nesse vínculo a única chance de redenção para ambos.
Demerara
Aquele romance histórico para levar seu pai para outra época. Escrito por Wagner G. Barreira, conta a história de Bernardo, nascido na Galícia, no norte da Espanha. Ainda criança foi para um orfanato na cidade de Vigo, onde estudou e depois perdeu a chance de se tornar padre. Em 1918, dois anos após deixar a instituição, leva uma vida errante, vivendo de pequenos golpes ao redor do porto. Convencido por um amigo e precisando desaparecer por um tempo, embarca no vapor Demerara a caminho da América do Sul, na mesma viagem que trouxe a pandemia de gripe espanhola para o continente. Mistura de ficção e eventos históricos, o livro de Wagner G. Barreira dá voz ao narrador personagem ao relatar a travessia do Atlântico, a acusação de ter assassinado o amigo, a prisão em Santos, a convivência com infectados pelo vírus, a fuga para São Paulo e as dificuldades de adaptação na cidade em construção pelas mãos de imigrantes vindos de todas as partes do mundo.