Em 1954, a Revista Cruzeiro encomendou uma história para comemorar o quarto centenário da cidade de São Paulo para ser publicada em formato de folhetim.
Folhetins, para quem não é familiarizado com o termo, são histórias serializadas publicadas em capítulos. O formato surgiu ali por volta de 1830 e foi popular até meados dos anos 1960. Mais de 100 anos de histórias publicadas em partes em revistas e jornais. Que demais, não?
Pois então, para aquela comemoração do aniversário de São Paulo, quem escreveu a história foi Dinah Silveira de Queiroz, e foi daí que surgiu A MURALHA, um dos principais romances da autora.
Segundo Cíntia da Silva Vaz, na dissertação Pelas trilhas de Lagoa Serena: a construção do mito da mulher Bandeirante na Obra A Muralha e na revista O Cruzeiro, “a obra foi extremamente bem sucedida, ainda como folhetim, e marca segundo HALLEWELL, juntamente com o lançamento de Lygia Fagundes Telles, com o romance Ciranda de Pedra, e Antonio Accioly Neto com a obra A vida é Nossa, uma guinada na historia da revista, que a partir desta data torna-se um selo literário e um veículo de informação e entretenimento".
Ainda em 1954, A MURALHA também foi editada no formato romance pela editora José Olympio. E esse foi o caminho de muitas obras publicadas em folhetins, como os livros de Machado de Assis e José de Alencar. O formato, aliás, influenciou muito a escrita desses dois autores, segundo Luís Roberto de Souza Júnior no artigo A influência incofessável: Como o folhetim formou o romance brasileiro. Como ele lembra, “quase todos os grandes escritores brasileiros do século XIX passaram por jornais. Podemos citar alguns que entraram para o cânone, como Joaquim Manoel de Macedo, Raul Pompéia, Aloísio de Azevedo e Euclides da Cunha”.
O folhetim ajudou muito na popularização da leitura no Brasil, já que o acesso à livros era, bem, reservado às classes mais altas da sociedade. Mas lá naquelas páginas cheias de notas, notícias, reportagens, tinha sempre um pouquinho de ficção para encantar os leitores no rodapé das páginas.
Com a chegada do rádio, os folhetins foram perdendo sua popularidade com os leitores, embora as publicações tenham continuado tentando reviver o formato. Podemos dizer que A MURALHA foi um case de sucesso, já que era uma época em que a rádio e a TV já eram bem mais populares.
Um dos últimos folhetins publicados no Brasil foi Nenê Bonet, escrito por Janete Clair ali pelos anos 1980 para a revista Manchete. Sim, a autora de novelas! Porque né, folhetins e novelas estão aí, juntinhos, já que no século XX eles traziam também imagens.
Quer saber o que mais foi publicado como folhetim? Aqui vão outras obras famosas que nasceram nas páginas de revistas e jornais:
O Guarani, de José de Alencar
Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
O Ateneu, de Raul Pompéia
Casa de pensão, de Aluísio Azevedo
Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas
Madame Bovary, de Gustave Flaubert
Ah, que saudades dos folhetins. Será que hoje ele ainda encontraria espaço na vida dos leitores? De certa forma, encontra sim. As famosas fanfics, por exemplo, são publicadas em formato de série, só que em plataformas online. Mas a gente bem gostaria de ver esse formato retornando no formato impresso… Já que somos, hoje, tão viciados em histórias serializadas, talvez a gente curtisse ler toda semana uma historinha para deixar a gente curioso para o próximo capítulo…
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Também teve resenha de MARGARIDA LA ROCQUE: A ILHA DOS DEMÔNIOS, de Dinah Silveira de Queiroz, lá no perfil Erika Lendo!
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Cuidado ao andar pela estrada. Você pode ser atacado por uma horda de gatinhos.
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