A literatura serve pra abraçar?
E mais: Susan Sontag e seus escritos sobre a aids e Ana Lis Soares no podcast Elas na Escrita
Entretenimento, conhecimento, beleza, arte… A literatura pode abarcar muitas coisas e diversos estilos. Mas, vez ou outra, surge uma argumentação entre escritores, editores e leitores que defende a posição de que literatura não deve “abraçar”, não deve ser feita para aliviar a dor da existência humana, e sim para jogar todo o caos na nossa cara, para nos fazer confrontar incômodos. Se você também considera “literatura” apenas aquilo que chafurda nos problemas humanos, pegue seu café, sente confortavelmente e venha ler esta newsletter.
Quem conhece o catálogo da Instante já deve saber que muitos dos nossos livros não abordam só o lado solar da existência. Gostamos de histórias sobre conflitos humanos, que delineiam padrões de comportamento falhos, que investigam os pensamentos mais tenebrosos da mente humana. Amamos essas histórias que — como muita gente gosta de dizer sobre um livro que impacta — nos dão um “soco no estômago”; quer exemplos? A TIRANIA DAS MOSCAS, de Elaine Vilar Madruga (tradução de Carla Fortino), e DEGENERADO, de Ariana Harwicz (tradução de Silvia Massimini Felix), são apenas alguns. Mas a gente nunca levou um soco no estômago de verdade para saber qual é a sensação. Quando não corremos risco sequer de levar um peteleco na orelha, é até divertido analisar o caos da vida lendo ficção. Mas precisa ser só isso? Só esse “tipo” de literatura é, como gostam de dizer, literatura?
Claro que não. A literatura tem espaço para inúmeros sentimentos e ações, do soco no estômago ao abraço, do choro ao riso, da seriedade ao humor mais escrachado. E, quando uma obra é bem escrita, todas essas abordagens são válidas. Dizer que a literatura não deve “abraçar” é, também, ignorar seu poder de confortar, seja em um livro “pesado” ou “leve”. Às vezes, precisamos daquela história fofinha e alegre para desviar a mente dos problemas da vida. Em outras situações, o que esperamos é o “soco no estômago” para nos tirar da ilusão de que está tudo bem.
A intenção de definir o que é literatura, ou para o que ela serve, restringindo-a a qualquer temática é meio que cair na dicotomia simplista de “alta” ou “baixa” literatura, uma categorização deveras elitista que tenta manter o fazer literário longe das pessoas comuns. Não existe apenas sofrimento no mundo. Não existe apenas desconforto existencial. Nem todo leitor quer tomar um soco no estômago toda vez que abrir um livro. Às vezes, ele só quer ser abraçado mesmo, e tá tudo bem. Isso também é literatura.
O que mais temos para hoje?
Coisas legais sobre livros e leitura e outros assuntos interessantes que vimos por aí
No Dia Mundial de Combate à Aids, celebrado hoje, 1º de dezembro, recomendamos os textos que Susan Sontag escreveu sobre a doença, como o conto “Assim vivemos agora”, de 1986, e o ensaio “Aids e suas metáforas”, de 1988 — dez anos após a publicação de seu aclamado “Doença como metáfora”, sobre câncer, doença que a acometeu nos anos 1970. Em todos eles, Sontag procura dissipar a irracionalidade que envolve o entendimento dessas enfermidades e libertar os pacientes da culpa que muitas vezes pesa sobre si mesmos. Em SEMPRE SUSAN (com tradução de Carla Fortino), Sigrid Nunez cita esses textos em duas passagens: “A New Yorker começou a publicar seus contos, incluindo o muito elogiado sobre a crise da aids, ‘Assim vivemos agora’ (1986), que John Updike selecionou como organizador da obra The Best American Short Stories of The Century [Os melhores contos estadunidenses do século] (1999)”, e “Certa vez, quando fui buscá-la em sua casa (em uma época em que David e eu não estávamos mais juntos), assim que cheguei ela me entregou um rascunho de ‘Aids e suas metáforas’. Queria que eu lesse todas as cem páginas ali mesmo; o jantar poderia esperar”.
Perdeu a reprise da novela A SUCESSORA que rolou no canal Viva no começo do ano? Pois o Globoplay lançou dois canais novos de novelas, o Viva 70 Fast e Viva 80 Fast, com as melhores produções de cada uma dessas décadas. E no Viva 70 Fast esse clássico da teledramaturgia baseado no romance de mesmo nome escrito por Carolina Nabuco está em exibição. Vem saber mais!
Olha que bacana essa indicação na newsletter da livraria Aigo: uma cliente estava com viagem marcada para a Colômbia, e a recomendação foi ler FEBRE TROPICAL, de Julián Delgado Lopera, com tradução de Natalia Borges Polesso. Nós amamos!
Ana Lis Soares, autora de DOMINGO, participou do podcast Elas Na Escrita falando sobre esse trabalho árduo, mas que amamos, que é escrever. Vem conferir um trecho!
O Clube de Leitura Brasília leu neste mês o romance mais recente de Maria José Silveira, FAREJADOR DE ÁGUAS. Vem conferir como foi o bate-papo!
Falando em FAREJADOR DE ÁGUAS, quer bons motivos para ler o romance? Então vem conferir o post sobre o livro da prestigiada e querida autora de livros infantis e juvenis Indigo Ayer!
E para encerrar: conheça este exímio dançarino de lambada.
E ficamos por aqui! Obrigada por passar mais esse instante com a gente, um abraço literário e até semana que vem!