Uma olhadinha no cenário atual do fomento à leitura no Brasil
E mais: lançamento de PERDER O JUÍZO, de Ariana Harwicz, hoje, às 19h, na Megafauna.
Vez ou outra gostamos de trazer aqui para a newsletter a discussão sobre os rumos do mercado editorial brasileiro. No mês passado, o PublishNews divulgou o artigo "Os Fatores de Transformação do Mercado Editorial Brasileiro", elaborado por Nielsen BookData, Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro (CBL), que dá um panorama sobre o encolhimento sofrido pelo mercado nos últimos anos e suas tentativas de recuperação.
Vários dados apontados chamaram a atenção, um deles por ser muito preocupante: desde 2006, o mercado editorial teve uma queda de 43% nas vendas para o mercado privado. Isso envolve todos os livros: obras gerais (literatura, não ficção, autoajuda, etc.), didáticos e científicos, técnicos e teóricos. Há muitos fatores que contribuíram para isso, como a crise econômica e a perda do poder de compra do brasileiro, o fechamento de grandes redes de livrarias e o aumento do preço do livro.
Mas olha só outro dado curioso: embora o principal fator apontado pelos leitores para não comprarem livros seja o preço, o valor médio de um livro em 2024 está 30% mais barato do que era em 2006, levando em conta a inflação. Então o principal problema não é apenas o dinheiro, mas também a valorização do livro e o acesso a ele — a falta de livrarias em locais que não sejam os grandes centros também é um dos agravantes para a queda no mercado.
Segundo a pesquisa, no Brasil, cerca de 16% dos habitantes consomem livros, a maioria das classes C e D. E aí chegamos numa questão importantíssima: como criar mais leitores? É consenso o enorme papel da escolarização formal, um dos principais espaços onde o hábito pode florescer, mas claro que não é apenas da escola o papel de fomentar a leitura. E, no que diz respeito à oferta de livros a alunos e professores do sistema público de ensino, algo que tem preocupado são os atrasos na compra dos livros selecionados pelo PNLD Literário — questão que também tem prejudicado muitas editoras que dependem das compras governamentais para seguirem funcionando.
Na abertura da Bienal do Livro de São Paulo, o presidente Lula assinou o decreto que regulamenta a Política Nacional de Leitura e Escrita, algo essencial para fortalecer as ações de fomento à leitura promovidas pelo Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, e se comprometeu também a instituir um novo Plano Nacional do Livro e da Leitura, que deverá entrar em vigor no próximo ano.
Mais do que destinar verba pública para a aquisição de livros e distribuí-los país afora, é importante promover programas de capacitação e formação de professores para que esse material possa ser utilizado da melhor maneira possível nas salas de aula. Todas essas ações são fundamentais para que o livro volte a ser valorizado pelo público brasileiro. E, quando falamos de valor, não é só sobre o preço. Tem a ver mais com entender que o livro é tão importante quanto qualquer outro bem de consumo, como um tênis da moda ou um eletrônico de última geração, e transformar a leitura em hábito diário.
Então fica aqui uma questão para você pensar: será que estamos valorizando os livros da maneira que eles merecem? Conseguiremos algum dia fazer com que a leitura seja uma paixão nacional como o futebol? Esse é um trabalho difícil, mas possível. Para que o Brasil seja verdadeiramente um país de livros, o investimento não deve ser apenas financeiro, mas afetivo, comportamental e didático.
Lançamento de PERDER O JUÍZO na MEGAFAUNA
Hoje, 20 de setembro, às 19h, Ariana Harwicz conversa com a escritora Natalia Timerman no lançamento oficial de PERDER O JUÍZO, seu novo romance. Após a conversa, haverá sessão de autógrafos, então te esperamos lá para comemorar essa novidade!
Em PERDER O JUÍZO, com tradução de Silvia Massimini Felix e capa de Fabiana Yoshikawa, Ariana Harwicz concebe algo semelhante a um road movie no qual sua prosa afiada, cinematográfica e de sombria beleza mais uma vez destroça os clichês que cercam as noções de família, maternidade e relacionamentos. Também lança luz sobre a violência vicária, porém sobre o tipo mais incomum dela: quando a mãe usa os filhos para atingir o pai.
A narradora Lisa Trejman é o exemplo perfeito do que a justiça francesa considera uma mãe ruim: é argentina, judia e imigrante e recebeu uma medida protetiva para se afastar dos filhos gêmeos após trocar agressões com o marido. Farta das breves e esporádicas visitas assistidas aos meninos, decide atear fogo à casa onde eles moram com o pai e sequestrá-los. Num ritmo vertiginoso, narra a fuga num carro roubado enquanto rememora as lembranças amargas de um relacionamento fadado à ruína, vendo até onde é capaz de ir para afastar os filhos do ex-marido, mesmo que para isso seja necessário cair na clandestinidade e comprometer o bem-estar das crianças. Afinal, para Harwicz, qualquer um está a apenas um passo de se tornar um criminoso.
O que mais temos para hoje?
Coisas legais sobre livros e leitura e outros assuntos interessantes que vimos por aí
O programa Entrelinhas indicou a leitura de OS VULNERÁVEIS, de Sigrid Nunez (trad. Carla Fortino). Vem pegar essa dica!
O escritor Rafael Montes, autor de Uma família feliz, indicou MORRA, AMOR, de Ariana Harwicz (trad. Francesca Angiolillo), para quem curtiu o romance dele. Oh, sigam a dica dele, viu?
E já que falamos sobre o incentivo à leitura, fica também a dica para ouvir esse episódio do podcast do PublishNews sobre como o PNLE e o PNLL são importantes para as livrarias.
E para a gente ver como a literatura tem espaço, sim, no Brasil: a Bienal do Livro de São Paulo foi visitada por mais de 700 mil pessoas em 2024! Leia mais aqui.
Para encerrar: tadinho dele…
Obrigada por passar mais um instante virtual aqui com a gente! Mas, se quiser que esse instante seja também presencial, apareça hoje no lançamento de PERDER O JUÍZO na Megafauna. Até a próxima!