O que é um roman à clef?
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No prefácio de AOS MEUS AMIGOS, de Maria Adelaide Amaral, o jornalista Mauricio Stycer comenta:
“A explícita homenagem de Maria Adelaide a Décio Bar, a quem o livro é dedicado, pode levar a pensar que AOS MEUS AMIGOS seja um roman à clef, um romance no qual a autora desenha pessoas reais, escondidas por nomes fictícios. De fato, vários amigos e conhecidos da autora se enxergaram nas páginas, e gostaram, como o editor Pedro Paulo de Sena Madureira, o jornalista Renato Pompeu e a psicanalista Lidia Aratangy.
Já à época do lançamento original, porém, Maria Adelaide advertiu que não escreveu um roman à clef. Nenhum personagem representa uma única pessoa, avisou. Um dos tipos mais marcantes, o homossexual Benny, por exemplo, tem traços do poeta Roberto Piva, do escritor Caio Fernando Abreu e de Sena Madureira, entre outros conhecidos da autora.
Essa brincadeira de procurar figuras do mundo real na ficção, além de diminuir o alcance de OS MEUS AMIGOS, chega a ser irrelevante nos dias de hoje. A ficção de Maria Adelaide é muito mais que um jogo de adivinhação de personagens.”
Já tinha ouvido falar de roman à clef? Se não, a edição de hoje vai abordar esse recurso literário, mesmo que não tenha sido uma escolha da autora usá-lo na composição de AOS MEUS AMIGOS, uma vez que a obra não é um retrato fiel de pessoas que existiram, mas cada personagem carrega características de amigos e colegas de trabalho que conviveram com Maria Adelaide Amaral.
Roman à clef (em tradução literal, algo como “romance sob uma chave”, no sentido de conter um enigma) é um termo francês que surgiu no século XVII e designa um artifício literário em que personagens e histórias reais são retratados na ficção com uso de pseudônimos ou mudanças em detalhes da história. A escritora francesa Madeleine de Scudery é considerada uma precursora desse recurso por publicar, sob o pseudônimo George, histórias que retratavam figuras públicas da aristocracia francesa — livros que foram muito populares na época.
Muitos autores consagrados escreveram pelo menos um roman à clef, como Jack Kerouac com Na estrada, Sylvia Plath com A redoma de vidro e Hunter S. Thompson com Medo e delírio em Las Vegas.
A popularidade dessa forma é fácil de entender, afinal todo mundo aprecia uma fofoquinha de leve, ainda mais se ela for tão bem escrita a ponto de ser difícil determinar se aquelas pessoas — ou melhor, personagens — envolvidas existiram ou não. Fale a verdade, a sensação de descobrir em quem o autor ou a autora pode ter se inspirado é muito divertida!
Um estilo muito parecido e que se tornou popular é a autoficção, explorada por autores como a Nobel de Literatura Annie Ernaux e o escritor norueguês Karl Ove Knausgård — que escreveu uma série de seis livros inspirados na própria vida. Mas, diferente do roman à clef, a autoficção não mascara as personagens por trás de nomes fictícios ou leves mudanças em suas características; ela vai direto ao ponto, “dá nome aos bois”.
Mas, seja ao ler autoficção, seja ao ler um roman à clef, a dica de Stycer permanece: não leia tentando adivinhar o que é real e o que é ficção, apenas aproveite a história.
Último dia de pré-venda de TORTURA BRANCA
Narges Mohammadi, vencedora do Nobel da Paz em 2023, está há décadas plenamente engajada na discussão sobre o sistema penal iraniano e suas violações sistemáticas contra os direitos humanos — e, entre idas e vindas, tem estado na prisão desde 1998. TORTURA BRANCA, com tradução de Gisele Eberspächer e capa de Fabiana Yoshikawa, reúne, além de seu depoimento sobre suas experiências na cela solitária, entrevistas e testemunhos de outras treze presas políticas iranianas encarceradas sem sólidas bases legais, muitas vezes sem sequer saber do que estavam sendo acusadas, que ainda cumprem (como a própria Narges) ou já cumpriram pena em terríveis condições de isolamento e violência física e psicológica.
O assunto central dessas falas é o uso do confinamento solitário, um dos exemplos mais proeminentes de “tortura branca”, expressão que dá título ao livro e pode ser descrita como um tipo de coerção que consiste em submeter prisioneiros à privação “de todos os estímulos sensoriais por longos períodos [...], juntamente com as técnicas de confinamento solitário e interrogatório”. Trata-se, portanto, de um conjunto aterrador de visões sobre o tratamento infligido pela República Islâmica do Irã a presos políticos e ativistas, um testemunho único de resistência e um ato de coragem que surge na esteira do movimento “Mulher, Vida, Liberdade”, que tomou as ruas do mundo todo desde 2022.
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O que mais temos para hoje?
Coisas legais sobre livros e leitura e outros assuntos interessantes que vimos por aí
Na edição impressa de maio da revista Quatro Cinco Um, Kelvin Falcão Klein resenhou O RUÍDO DE UMA ÉPOCA, de Ariana Harwicz (trad. Silvia Massimini Felix), além de ter entrevistado a autora. “A crise na leitura é a crise no pensamento, na escritura, na recepção e produção da arte. É indissociável: pensar, ler, escrever; os discursos se armam tanto na leitura quanto na escritura, é um processo único, são eixos que caminham juntos. É difícil que uma sociedade que produza arte crítica não vá produzir também uma crítica atuante.” Leia mais aqui.
Já na Folha de S.Paulo, quem escreveu sobre O RUÍDO DE UMA ÉPOCA foi a tradutora e professora Dirce Waltrick do Amarante: “Para o artista, diz Harwicz, o que deveria importar ‘é a fé na obra, não a recepção da época’. No entanto, como também reitera a escritora argentina, parece que hoje o que mais importa é a figura do artista, do escritor, que, em um festival literário, sobe no palco e assume também uma posição política, ideológica, a qual lhe dá um verniz especial.” Leia a resenha completa.
O Danilo Pereira falou sobre a leitura de AS MÃOS DA MINHA MÃE, de Karmele Jaio (trad. Fabiane Secches): “O tom da narrativa é direta, sem rodeios. A sensação que tive é que Nerea a qualquer hora iria explodir como se fosse um carro bomba.”
A Gisele Eberspächer, tradutora de TORTURA BRANCA, compartilhou como foi traduzir esses relatos reunidos por Narges Mohammadi: “Traduzir esse livro veio com uma sensação estranha. Em primeiro lugar, honra e responsabilidade de passar essas vozes adiante. Mas conviver com o texto foi pesado. Foi impossível não compartilhar um mínimo da dor, da indignação, do cansaço e da raiva dessas mulheres”.
A literatura perdeu um grande autor na última terça: Paul Auster, que tinha 77 anos, autor da “Trilogia de Nova York”, Diário de Inverno, 4 3 2 1, entre outros romances, roteiros, poemas e textos de não ficção. Para a Folha, a crítica Camila von Holdefer escreveu sobre a força da obra do autor. A escritora Siri Hustvedt, companheira de Auster por 42 anos, desabafou em seu perfil no Instagram sobre a partida do marido, em casa, rodeado por familiares, e lamentou que o anúncio mundial da morte tenha sido feito antes que alguns entes queridos pudessem ter sido avisados por ela e pela filha do casal, Sophie Auster.
Se você não se planejou para estar em Copacabana e assistir ao megashow da Madonna neste sábado, pode conferir a programação especial do Museu da Língua Portuguesa para comemorar o Dia Mundial da Língua Portuguesa! A entrada é gratuita, e o museu abre a partir das 11h, lá na Estação da Luz.
Para encerrar, contemple este lindo neném com carinha de bravo.
Obrigada por passar mais um instante aqui com a gente e até semana que vem!