As Dicas de Olga Savary no PASQUIM
E mais: Maria Adelaide Amaral conversará com Maria Valéria Rezende no II Festival da Palavra de Curitiba
Quando apresentamos o lançamento de O OLHAR DOURADO DO ABISMO, destacamos que, de 1969 a 1982, Olga Savary escreveu para o periódico O Pasquim, considerado até hoje uma das principais publicações da imprensa brasileira pelo tom crítico, o humor e as diversas reportagens culturais e entrevistas.
Durante esse tempo, Olga escreveu para a coluna As Dicas, seção que ela mesmo criou e para a qual elaborou o termo “dica”, que tanto usamos hoje, uma abreviação de “indicação”. Pesquisando imagens para os posts de divulgação de nosso lançamento de junho, encontramos o acervo digital da Biblioteca Nacional com todas as edições publicadas de O Pasquim. E é claro que paramos para conferir sobre o que Olga Savary estava escrevendo, e indicando, naquela época.
Selecionamos algumas dicas para que todos saibam como essa grandiosa poeta e jornalista estava antenada com o meio cultural da época. Bora conferir?
Sempre presentes nas dicas estavam restaurantes no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Salvador, enfim, em todas as cidades por onde a autora passava. Mas uma que achamos muito curiosa foi esta recomendação de Belo Horizonte:
BELO HORIZONTE — Já existe, com a cada vez maior popularização do pão de queijo mineiro, a massa pronta, que vem num saco plástico e é um produto da Padaria São Geraldo. Essa massa é também encontrada na casa Friosul. Se você quiser aprimorar, acrescente um ovo e uma colher de sopa de manteiga, ou gordura, à massa. Fica pronta rápido e dá para 30 pães de queijo de tamanho normal. Na Friosul você encontra ainda laticínios, conservas estrangeiras, cervejas em lata (entre outras a japonesa). A casa abre aos domingos até a tarde. (O Pasquim, 1969, edição 13)
Savary também frequentava a cena artística e aqui deixou uma dica clássica para quem estava no Rio de Janeiro em 1969:
RIO - Show de Elis Regina e Miele, com Roberto Menescal, Wilson das Neves, José Roberto, Hermes e Jurandir. Vai ficar em apresentação todo este mês de férias (julho), no Teatro da Praia. Vale a pena ver esse sensacional show de altíssimo nível profissional, talvez o mais maduro e mais cuidado já feito no Brasil. Elis é uma força no palco: domínio total de presença e voz, a superação de si mesma. Miele chega aqui à sua maturidade como showman, a comunicação é constante do começo ao fim, sua expressão corporal é definitiva, hilariante, a voz perfeita para dizer e contar humor. Os dois cantam, dançam, fazem teatro e humor. Elis imita Carlitos, e Miele, personagens das comédias mudas. O quinteto de Menescal, que os acompanha, está excelente. O teatro, inaugurado agora, é grande, confortável, com ar-condicionado e som perfeito. A iluminação deve ser citada pela total funcionalidade. Cenário enxuto e bem realizado por Marco Antonio Pudny. Funcionam muito bem os slides e os efeitos móveis de cor no palco. Direção do maior equilíbrio e seriedade de Miele & Bôscoli. Um show extraordinário, gostoso, de bom gosto, da maior dignidade. (O Pasquim, 1969, edição 3)
E “dica ao contrário”, tem? Tem, sim! Apesar de geralmente falar de coisas que a agradaram, Olga Savary também aproveitava o espaço para dar as suas alfinetadas:
SÃO PAULO, BLOW UP — Uma boate que já foi conhecida e que hoje vive na base de “shows”. O espetáculo atual, com Claudete Soares e Pedro Mattar, é de chorar de tristeza. Um “show” pobre, sem nada para dizer e cheio de pretensões. Isto sem se falar nos garçons, que cobram a nota — sempre exagerada — com uma metralhadora na mão. (O Pasquim, 1969, edição 12)
É claro que não poderiam faltar dicas de leitura. Na coluna de uma edição de 1970, ela disparou várias sugestões para leitores taurinos:
Se outro motivo não há para ler Jung, há o seu signo, que é também o de Freud. Não tem nada a ver, mas vale ler Jung, vida e obra, da psiquiatra Nise da Silveira, que manja paca do assunto. Diz a Nise que o livro é “apenas um mapa de bolso, um itinerário de estudo”, mas é uma leitura indispensável para aqueles que se interessam pelo trabalho e personalidade de Jung. E como ler não faz mal a ninguém, aí vai outra que nasceu em Taurus: Charlotte Brönte. Em homenagem a ela, recomendo a leitura do exemplar de janeiro-fevereiro da revista Cadernos Brasileiros (encontrada nas livrarias), onde, entre outras coisas, você pode encontrar um poema inédito de Carlos Drummond de Andrade. E tome cultura, leia também em intenção do pesquisador Pierre Currie. Touro como você, um livro que pretende balançar o coreto da arqueologia, Eram os deuses astronautas?, e que vem da trilha iniciada por O despertar dos mágicos. (O Pasquim, 1970, edição 46)
Para terminar, outra sugestão de leitura com uma mensagem final que se encaixa muito nos dias atuais:
RIO, LIVROS - Dia 20, às 21 horas na Livraria Contemporânea, o nosso amigo Newton Carlos lança seu novo livro, Peru: o novo nacionalismo latino-americano. É uma análise lúcida e objetiva da realidade sul-americana, esse nosso terceiro mundo que, se as coisas continuarem nesse andamento, não tardará a ser rebaixado para quarto. (O Pasquim, 1969, edição 9)
Gostaram de conhecer essa versão da Olga Savary cheia das dicas? Então vem conhecer também sua produção como contista! O OLHAR DOURADO DO ABISMO, seu único livro de contos, acaba de ganhar uma nova edição pela Instante e já está nas livrarias. Vem conhecer mais sobre o livro!
O que mais temos para hoje?
Coisas legais sobre livros e leitura e outros assuntos interessantes que vimos por aí
Alô, galera de Curitiba! Neste fim de semana começa a segunda edição do Festival da Palavra de Curitiba, que vai até 22 de junho. Teremos a participação de Maria Adelaide Amaral, autora de AOS MEUS AMIGOS e LUÍSA (QUASE UMA HISTÓRIA DE AMOR), que vai acontecer no dia 19/6, às 20h, no Memorial de Curitiba. Ela vai conversar com outra autora que admiramos, Maria Valéria Rezende, e a entrada é gratuita.
Se você perdeu ou quer rever o bate-papo que rolou na Sala Tatuí com Ariana Harwicz, autora de O RUÍDO DE UMA ÉPOCA (trad. Silvia Massimini Felix), a gravação está disponível na íntegra no YouTube. Vem assistir aqui!
No final de junho começa mais uma A Feira do Livro em São Paulo, e este ano teremos dois autores na programação! A Quatro Cinco Um divulgou o Listão com obras dos convidados para a feira, que acontece de 29 de junho a 7 de julho na Praça Charles Miller, no Pacaembu. E é claro que AOS MEUS AMIGOS, de Maria Adelaide Amaral, e EM ALGUM LUGAR LÁ FORA, de Jabari Asim (trad. Rogerio W. Galindo), estão presentes!
Falando nisso, vai rolar uma campanha de arrecadação de livros para o Rio Grande do Sul durante A Feira do Livro. A campanha é organizada por professores para angariar exemplares para escolas e bibliotecas atingidas pelas enchentes. Saiba como ajudar!
Para quem lê em inglês e trabalha com escrita e criatividade, sugerimos este texto do blogueiro sueco Henrik Karlsson na newsletter Escaping Flatland. Aqui ele comenta algumas práticas que podem ajudar a ter boas ideias e dar mais substância a textos.
Para encerrar, fiquem com o encontro muito animado desses dois queridos:
E ficamos por aqui! Obrigada por passar mais esse instante com a gente. Se gostou da nossa newsletter, compartilhe-a com os amigos. Até semana que vem! :)
Que delícia essa edição! Amei as dicas da Olga, certeza de que seria altamente influenciada por ela rsrs.